Construção do conceito:
A definição “Idade Media” foi construída fora do seu tempo, ou seja, este termo surgiu na idade Moderna, com a valorização dos ideais humanistas na conjuntura do Renascimento, em suma, para o homem renascentista, que valorizava a razão, a Idade Média é marcada pela religiosidade e pelo predomínio da igreja, assim este ínterim foi interpretado como momento de obscurantismo e ignorância, mas a parti do século XIX, este olhar passou a ser revalorizado e revisto pelos românticos, que se opunham ao Racionalismo Moderno, desta forma, consideraram os medievais os formadores das nacionalidades europeias. Logo os historiadores do séc. XX passaram a perceber os “medievos” nesta óptica, considerando o desenvolvimento técnico da agricultura, a filosofia “Agostiniana” (Santo Agostinho) e a “Tomista” (São Tomas de Aquino) e a arquitetura com as Catedrais.
Divisão da Idade Média:
- I. Primeira Idade Média (Antiguidade Tardia) - séculos V-VIII corresponde à fase das invasões bárbaras, do crescimento do cristianismo na Europa e do desmantelamento do Império Romano.
- II. Alta Idade Média - séculos VIII, XI e X, período de estabelecimento do Império Carolíngio, o desenvolvimento do sistema feudal e a expansão islâmica.
- III. Idade Média Central – séculos XI, XII e XIII compreende o período de soerguimento após o esfacelamento do Império Carolíngio e as novas invasões e pilhagens de bárbaros, como os vikings, o desenvolvimento da arte sacra medieval, arquitetura gótica e românica, e o aparecimento das universidades e da filosofia escolástica, além de eventos de viés militar e religioso, como as Cruzadas.
- IV. Baixa Idade Média – séculos XIV e XV, chegando a algumas regiões, até meados do séc. XVI. Nesse período, há eventos como o Renascimento Comercial e Urbano, propiciados pela reabertura do Mar Mediterrâneo, que antes estava sob domínio muçulmano. Ainda nesse período, há, entre o fenômeno da Peste Negra e início o Renascimento Cultural e Artístico, que se destacou, sobretudo na Itália e nos Países Baixos.
Portanto, a Idade Média é descrita como o intervalo, onde se constrói a Cristandade, ainda mais na Alta Idade Média nascedouro da unidade Europa na articulação entre o Império Carolíngio, desenvolvido pelos francos, e a Igreja Católica. Depois consolidando o Sacro Império Romano-Germânico.
Feudalismo - É um conceito histórico construído com o intuito de servir de ferramenta teórica para o estudo de determinado período na formação do Ocidente. Refere-se especificamente ao sistema político, econômico e social da Europa medieval. E tem sua origem no vocábulo “feudum”, que significa domínio ou posse em Latim. Logo, para Marc Bloch o feudalismo se resume em: “Um campesinato mantido em sujeição; uso generalizado do serviço foreiro (isto é, o feudo) em vez de salário [...]; a supremacia de uma classe de guerreiros especializados; vínculos de obediência e proteção que ligam homem a homem e, dentro da classe guerreira, assumem a forma específica denominada vassalagem; fragmentação da autoridade [...]”.
E para alguns historiadores, o feudalismo teve sua origem na França, na Alta Idade Média, e seu desaparecimento na Baixa Idade Média.
Características do Feudalismo:
- · Econômicas: essencialmente agrária e autossuficiente – produzia-se para o consumo imediato. Trabalho regulado pelas obrigações servis, fixados pela tradição e pelo costume.
- · Políticas: o poder político descentralizado das mãos do rei, cada domínio feudal era independente, cada feudo era governado pelo seu senhor.
- · Relação entre nobreza feudal baseados nos laços de suserania e vassalagem.
- · Sociais: era rural e estamental, dividida em três estamentos(ordens sociais) cada qual com uma função: Clero(oração), Nobreza(defesa), Campesinato(servos e vilões).
- · Culturais: cultura teocêntrica, todo poder político girava em torno da autoridade religiosa. Predomínio da igreja que determinava o modo de pensar e de viver da sociedade. Condenação da igreja por juros (usura) e lucro. Fenômenos naturais explicados pela fé.
Crise do sistema feudal:
No final do século XIII e durante o século XIV, novos acontecimentos como a guerra, a peste e a fome ocorreram quase simultaneamente, abalando o sistema feudal, o crescimento demográfico e comercial observado a partir do século XI provocou transformações no panorama da sociedade europeia, levando a novos métodos de exploração agrícola, como a irrigação, a drenagem e o sistema de rotação de culturas, que transformaram em terras férteis locais antes caracterizados por pântanos e regiões muito secas.
Esta série de eventos levou à crise do mundo feudal e à organização dos Estados Modernos na Europa Ocidental.
· A fome - Sempre foi um problema de grandes proporções para o homem medieval, logo a oração do pai nosso é emblemática neste sentido, “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”, isto expressa às agruras e a indefinição em relação ao futuro. A hagiografia do medievo está permeada de casos em que uma aldeia faminta, vê como um verdadeiro santo, aquele que consegue fornecer alimento em momento de angustia.
O início do séc. XIV foi marcado por um ciclo de chuvas torrenciais extensas, o que causou a perda das colheitas em toda à Europa, acarretando a escassez rural e convulsão social, o que aumentou as tensões políticas já existentes. Disseminando a fome e inúmeras doenças ligadas à carência alimentar. O impacto econômico da grande fome foi catastrófico, pois os meios de produção existentes foram encaminhados para obtenção de alimentos, gerando o encolhimento do comercio e do artesanato.
- · A peste - assombrou o ocidente medieval em função das próprias condições alimentares e limitados recursos médicos, logo, as cidades sobrecarregadas pelo crescimento demográfico concentraram enfermos, que contribuíram para difundir, a doença. Assim, neste amplo contagio não demoraria muito para peste negra, roubar a cena e tornar-se a epidemia mais marcante na idade média, ou seja, séc. VI, tendo desaparecido no século VIII, mas retornou no século XIV e continuou endêmica no continente até o período posterior ao século XVII, chegando exterminar cerca de 1/3, da população europeia.
- · A guerra - Os dominantes feudais recorriam a um expediente clássico nos momentos de maior instabilidade, usavam os conflitos armados para resolver seus problemas, tanto que aconteciam em diversos pontos.
Sendo, o mais importante, a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), um embate que aconteceu entre França e Inglaterra.
Esta guerra não se tratava de um combate medieval clássico entre senhores, mas sim, uma batalha de características modernas tais como:
- ü A durabilidade.
- ü Novas tendências militares.
- ü Bloqueios econômicos.
- ü Sentimento patriótico ligado à sensação de se estar lutando por um reino e não mais por um senhor. Chegando alguns autores a referir-se como a 1° grande guerra nacionalista.
Dentro desta dinâmica de “Guerras”, temos que a atentar para as Revoltas Camponesas, pois o desenvolvimento comercial e a expansão da atividade urbana já vinham atraindo os camponeses para a vida nas cidades durante a Baixa Idade Média, logo no mundo urbano os trabalhadores se viam livres dos laços servis. No entanto, foi o aumento da exploração no campo – decorrente do declínio demográfico – que fez surgir uma série de movimentos camponeses na Europa.
A reação da aristocracia contra as revoltas foi violenta, no entanto, os conflitos nos campos deixava clara a dificuldade da nobreza fundiária em manter o controle diante das profundas transformações na sociedade europeia, abrindo espaço para o fortalecimento do poder real.
Assim, a peste, a fome e a guerra desencadeou uma serie de efeitos catastróficos nos séculos XIV-XV, resultando em aspectos fundamentais para o homem medieval, que passou a almejar por outras fronteiras políticas, socioeconômicas e espirituais, uma vez que os valores existentes foram perdendo os referenciais, logo anunciando uma Europa policêntrica.
Bibliografia:
História vol.1, caput 3. (Alexandre Fantagussi)
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