Neste texto será abordado o dinamismo do movimento negro desde a promulgação da Lei Áurea em 1888 até a República do Brasil, sob a perspectiva dos marginalizados, especialmente a população negra da história brasileira. O texto também incluirá uma breve cronologia dos "excluídos" da história. A partir da década de 1880, ocorreu uma grande campanha política e popular para o fim da escravidão, ampliando os espaços de autonomia dos escravizados. Os direitos civis estavam relacionados ao fim do tráfico negreiro, e uma série de eventos ocorreu no Brasil e no mundo nesse sentido
Este texto será
abordado o dinamismo do movimento negro, desde a promulgação da Lei Áurea
(1888) até o Brasil República, em ponto de vista dos marginalizados (a população negra) da história
brasileira, com acréscimo ao final de uma breve cronologia dos “excluídos” da
história.
Logo, na década de 1880 têm inicio uma
grande campanha política e popular para o fim da escravidão com os escravizados,
ampliando seus espaços de autonomia a parti da constituição de 1824, sendo os
direitos civis relacionados com o fim do tráfico negreiro e uma serie de
eventos ocorrendo no Brasil e no mundo:
- · Movimentos antiescravistas e anti-tráfico, acontecendo na Europa desde o final do séc. XVIII.
- · Revoltas de escravizados no Caribe (Haiti), em 1791-1804.
- · Mobilização pela abolição do tráfico negreiro na Inglaterra (1807).
- · Lei Feijó (1831).
Assim, no intervalo
de dezenove anos (1831-1850) chega ao Brasil uma média de 800 mil almas
africanas escravizadas, oriundas dos povos: banto, hauçá, nagô e jeje, em detrimento da falia lei Feijó, que versava a “proibição da importação de escravos no Brasil, além de
declarar livres todos os escravos trazidos para terras brasileiras a parti
daquela data”, pois esta falácia é demonstrada através ações judiciais
movidas contra a ilegalidade da escravidão e a insatisfação dos sequestrados (africanos), em revoltas, como Malês (1835) que ampliou a discussão sobre o “perigo africano”, ameaçando o status quo da sociedade agrária
brasileira.
Desta forma,
desencadeando o medo da elite, através da lei Eusébio de Queiros, promulgada em 1850, que erradicava por
definitivo o tráfico negreiro, pois seu criador, sendo um ex-chefe da policia
imperial era conhecido pela repressão aos africanos escravizados.
As leis emancipacionistas:
- · Lei do Ventre Livre ou lei Rio Branco (1871) determinava que os filhos de mulheres escravizadas nascidos a partir desta data ficariam livres, e a criação de um fundo de emancipação para compra de alforria e reconhecendo o direito do escravizado de juntar dinheiro independente da vontade de seu dono, assim rompendo as políticas de domínio.
- · Lei Saraiva-Cotagipe ou Sexagenário (1885) – estabelecia liberdade aos escravizados que tivessem mais de sessenta anos de idade e normas para libertação gradual dos cativos, mediante indenização.
Esta última lei foi elaborada
pelo gabinete liberal, presidido pelo Conselheiro Saraiva, porém, só foi
aprovada no senado quando o grupo conservador, liderado pelo Barão de Cotegipe,
voltou ao poder. Demonstrando a artimanha do Estado para retardar a abolição,
entretanto a “Confederação Abolicionista”
vem enfraquecendo a legitimidade escravocrata em todo o país a exemplo disto, ha
abolição decretada em 1884 nas províncias do Amazonas e Ceará, e em 1887 a
solicitação do Marechal Deodoro da Fonseca ao governo imperial pedindo que o Exército
não fosse convocado para “caçar” os escravos fugidos e somando-se a isso ha
manifestação pública da Igreja Católica em favor da abolição.
E como “brisa de varão” no
carnaval de 1888 no RJ, as sociedades carnavalescas levaram carros alegóricos,
exaltando a liberdade que acarretou alguns meses depois assinatura da lei de Ouro em 13 de maio de 1888 – em um domingo -.
Mobilização negra nas primeiras décadas republicana – os primeiros passos da República, o
Brasil entra em uma mudança de paradigma.
A elite perde sua mão de obra
escravizada e para manter sua hegemonia, importam teorias raciais criadas da
Europa e Estados Unidos, que chegam ao país na 2° metade do séc. XIX,
repercutindo no status de cidadão da exorbitante quantidade de pessoas que
viveram sob a condição de “mercadorias”,
escravos, desta maneira, o período de 1870-1930 as ideias eram contrárias ao “status da pureza de sangue” em voga no
quartel colonial que associava o termo “raça”
a religião em uma dinâmica de descendência, fundamentada em interpretações
oriundas da Bíblia, em uma forma de estruturação das relações entre portugueses
e africanos.
Portanto, o momento
supracitado vem ganhando uma conotação cientifica pautado em argumentos
biológicos, que relacionava características físicas dos seres humanos à
capacidade intelectual. Desse modo, a humanidade passou a ser classificada a
partir de estágios civilizatórios, sendo a Europa o modelo de sociedade mais
adiantada, em detrimento do “resto” considerado atrasado e “bárbaros”.
Um exemplo desta relação é
descrito na definição do Conde de Gobineau no séc. XIX “negro fleumático, relaxado,
cabelos preto e crespo, pele acetinada; nariz achatado, lábios tumbidos,
engenhoso, indolente, negligente. Unta-se com gordura e governado pelo capricho”.
Assim, este conceito construído no “velho continente” desencadeou uma serie
argumentos explicativos descritos em quatro tópicos, sobre a “ciência racial”, que perdurou na
sociedade brasileira através de um pseudo cientificismo:
I.
Havia
raças diferentes entre a humanidade.
II.
A
“raça branca” era superior a “raça negra”.
III.
Havia
relação entre características físicas, valores e comportamento nas “raças”.
IV.
As
“raças” estavam em constante evolução.
E diante desta conjuntura racialista, os
afrodescendentes promovem revoltas e manifestações, marcando sua presença
política tais como:
- ·
A
Guarda Negra (1888-89).
- ·
Guerra
de Canudos (1896-97).
- ·
Instituições
educacionais (colégio São Benedito em 1902).
- ·
Revolta
da Vacina (1904).
- · Sucesso de Eduardo Neves (1808) musico negro.
- ·
Eleição
de Monteiro Lopes (1909) primeiro deputado negro.
- ·
Revolta
da Chibata (1910).
- ·
Times
de futebol (Cravos vermelhos, São Geraldo e Onze Galos pretos).
- ·
Grupos
carnavalescos.
Movimento
negro no Brasil republicano
– são as primeiras organizações políticas criadas entre 1920-30, com o intuito
de informar e denunciar a discriminação racial, por meio de periódicos chamados
de “imprensa negra”, sendo o embrião
da FNB.
Frente Negro, criada em 1930 foi a mais
importante estrutura do movimento negro brasileiro no inicio do séc.XX,
chegando a reunir 40 mil associados.
De forte caráter nacionalista e inclinação
fascista. A FNB serviu como referencial para luta contra o racismo no Brasil e exterior.
Portanto ao longo do séc. XX houve três
fases do movimento negro brasileiro:
1°
fase - “assimilacionista”
(não tinham pretensão de transformar a
ordem social) da 1° República (1894) até o Estado Novo (1937), com a
criação e consolidação da Frente Negra
Brasileira (FNB) como força
política em âmbito nacional de inclusão do negro na sociedade.
2°
fase – período de
redemocratização até golpe civil-militar (1964), criação da União dos Homens de Cor (UHC) em 1943, Teatro Experimental do Negro (TEN)
em 1944 por Abdias do Nascimento e a realização da I e II Convenção Nacional do
Negro (1945 e 1946).
3°
fase – abertura política
(1974), criação do Movimento Negro
Unificado (MNU) em 1978.
Logo, esta última fase sendo fundamental
na consolidação do movimento negro contemporâneo, influenciando outras
organizações negras, em consonância com o pensamento de Grada Kilomba “(...) a margem não deve
ser vista apenas como espaço periférico, um espaço de perda de privação, mas
sim um espaço de resistência, espaço de abertura radical (...)”.
Cronologia:
Ø
1873 - Formação da Associação Beneficente
Socorro Mutuo dos Homens de Cor, na Corte (Rio de Janeiro).
Ø
1880-1888 - Fugas em massa de escravos,
principalmente nas áreas cafeeiras do Vale do Paraíba e do oeste paulista.
Ø
1884 - Abolição nas províncias do Ceará do
Amazonas.
Ø
1886-1888 - Campanha abolicionista radical em
varias cidades, envolvendo comícios, periódicos e formação de quilombos
urbanos.
Ø
1888 - Abolição da escravidão em todo
território nacional.
Ø
1888-1889 - Formação da Guarda Negra e mobilização
da população negra em varias cidades contra a propaganda republicana e os
ataques a Princesa Isabel e a Monarquia.
Ø
1903-1915 - Surgem vários periódicos, especialmente
nas cidades de São Paulo e Campinas.
Ø
1924 - Surge o jornal o Clarim d'Alvorada, criado
por Jayme de Aguiar e Jose Correia Leite.
Ø
1926 - Mobilização para a construção do
monumento a "Mãe Preta".
Ø
1928 - Campanha contra o decreto do governo
paulista proibindo o ingresso dos negros na Guarda Civil de São Paulo.
Ø
1929 - Fundação do Centro Cívico Palmares.
Ø
1931 - Surge a Frente Negra Brasileira, em
16/12.
Ø
1932 - Indicados pela Frente Negra, cerca de
200 negros ingressam na Guarda Civil de São Paulo.
Ø
1932 - Mobilização da população negra, através
da Legião Negra, para participar da Revolução Constitucionalista de São Paulo.
Ø
1932 - Fundado o Clube Negro de Cultura
Social.
Ø
1933 - Surge o periódico A voz da raça, porta-voz
da Frente Negra Brasileira.
Ø
1936 - A Frente Negra Brasileira obtém o
registro como partido político.
Ø
1937 - Fechamento da Frente Negra Brasileira
na ditadura Vargas.
Ø
1938
- Cinquentenário da
abolição.
Ø
1943
– criação da UHC.
Ø
1944 – criação do TEM.
Ø
1945-46 – realização do I e II Convenção Nacional do Negro.
Ø
1978 – criação do MNU e lançamento da Carta aberta à população, “Por uma autentica democracia racial”.
Bibliografia:
Nepomuceno Brasil Eric, Mendonça Camila (O Negro no Brasil, cap. sete, pg. 73).
Dantas Carolina Vianna (O Negro no Brasil, cap. Oito, pg. 85).
Pereira Araujo Amilcar (O Negro no Brasil, cap. Nove, pg. 99).
Gomes Santos Flavio (Negros e Política 1888-1937, pg. 67).
Kilomba grada (Memórias da Plantação episódios de racismo cotidiano, pg. 33).