A Revolução Industrial - Prometeu Desacorrentado, David S. Landes




A obra "Prometeu Desacorrentado" é um estudo sobre características da Revolução Industrial. Nela, D. Landes propõe uma desambiguação do termo, tendo em vista a periodização do fenômeno a ser estudado. Para ele o uso de iniciais maiúsculas no termo "Revolução Industrial" se refere ao "primeiro exemplo histórico do avanço de uma economia agrária e dominada e dominada pela habilidade artesanal para uma economia dominada pela indústria e pela fabricação mecanizada". Assim, a periodização se inicia na Inglaterra do século XVIII e desde então vai se difundindo desigualmente, inicialmente para outros países da Europa Central, e depois para outras regiões do mundo.
O autor acredita que esta revolução ocorreu devido a uma sucessão de mudanças tecnológicas relacionadas. A substituição da habilidade humana pela de dispositivos mecânicos, a fonte de energia de origem inanimada, como o vapor, e a melhora na extração e transformação da matéria prima são para Landes os fatores centrais da Revolução Industrial. Estes fatores se ligam às transformações tecnológicas, impulsionando-as, e estes impulsos geravam novos impulsos. Para o autor, estas transformações ocorrem em um nível desigual e se substituem. Assim, a máquina a vapor foi substituída por outras cuja eficácia para a produção se mostrou maior, e assim subsequentemente (até hoje, pode-se dizer).
Os mesmos fatores causaram uma nova forma de organização industrial, causando o aumento no tamanho das unidades de produção, tirou do controle do produtor o controle dos equipamentos usados na produção transformando-o em operário supervisionado pelo empregador, ligado a este por uma relação econômica (o eixo salarial) e submetido à disciplina. Esta disciplina, baseada na otimização do tempo, racionalizou o trabalho, subjugando o trabalhador à força do relógio. Estas transformações abrangem uma série de campos distintos. Alteram desde as mais básicas condições de vida até as mais complexas relações econômicas e de poder.
Para Landes, isso só foi possível na Europa Ocidental com a separação nas relações entre a aristocracia e a população camponesa, que ocorreu com a derrocada da primeira em prol de uma burguesia industrial em ascensão, juntamente com o fim do sistema tradicional de posse da terra, substituído por um sistema de posse limitada e lotes fechados. Somados estes fatores ao enfraquecimento na vida no campo, com a expansão do êxodo rural e o crescimento urbano, foi criada uma serie de oportunidades de ascensão social que contrasta com a idéia da polarização da sociedade. Isso se deve ao fato de  o terceiro setor, ao qual pertencem os profissionais liberais e servidores, ter crescido tão ou mais rapidamente que a industria. Assim, a Revolução industrial, na visão de Landes, criou uma burguesia heterogenia e uma grande mobilidade social, onde alguns sobem e alguns caem. Não se pode ainda assim esquecer que a concorrência é um fator forte, e que muitas vezes as grandes indústrias acabam por dominar os mercados, “engolindo” as pequenas. Apesar disso, para Landes, “a Revolução Industrial criou uma sociedade mais complexa e mais rica”. Neste sentido, nota-se, uma visão positiva da Revolução Industrial por parte de Landes.
Outra mudança importante é a mudança política. A Revolução industrial inclinou o poder em favor das classes comerciais e industriais, gerando assim uma espécie de reação entre as massas trabalhadoras e a pequena burguesia.
Isto, contudo, é apenas uma descrição do fenômeno. A questão abordada pelo autor é, então, compreender as mudanças que explicam a Revolução Industrial, e o fato desta ter ocorrido em local e tempo delimitados. Assim, ele explica que a Revolução Industrial é fruto de uma serie de acontecimentos que propiciaram à Europa ocidental o capital e os recursos necessários. Assim, Landes defende que a eficiência e o alcance da iniciativa privada foi um fator essencial para compreender o fato de a Revolução ter ocorrido na Europa e não em outro lugar.
A iniciativa privada teve, no período pré-industrial e na parcela ocidental da Europa, a possibilidade de conseguir recursos, e a política teve um papel fundamental neste aspecto, ao permitir toda uma serie de mudanças jurídicas que reformularam as questões de propriedade (principalmente na questão da terra, alterando os direitos feudais dos nobres sobre os vassalos e suas propriedades), das relações sociais (antes obrigações vagas entre senhor e subordinado, transformadas em contratos formais entre partes iguais), propiciando uma maior liberdade de ação e de iniciativa para os empresários. Obviamente, ressalta o autor, que houve obstáculos a esta liberdade e esta iniciativa, ainda assim, foi na Europa ocidental que, devido principalmente às riquezas trazidas pela iniciativa privada, estes fatores se fizeram mais evidentes, em comparação com outros lugares. Assim, aumentou-se a possibilidade de um maior reinvestimento dos lucros na produção.
Outro fator que possibilitou o surgimento da Revolução Industrial é o que o autor chama de “racionalização da manipulação dos recursos do meio ambiente”. Para Landes, esta racionalização foi iniciada na religião, separa o misticismo, a superstição e o animismo das relações com o meio ambiente, propondo uma outra, mais empírica e padronizada. Landes para demonstrar tal argumento cita o trabalho de Weber, sobre o papel da ética protestante como fator para a Revolução Industrial, defendendo que estes valores religiosos sancionaram uma forma de pensamento inviável perante o dogmatismo de outras religiões, dogmatismo este que impediu esta manipulação racional do meio ambiente em outros locais.
Assim, esta ânsia por dominar o ambiente cresceu conforme o passar do tempo, e foi alimentada, nas palavras do autor, pelo sucesso de suas investidas anteriores. A formação política da Europa foi importante, devido à concorrência entre os estados nacionais, a fomentar esta busca pela riqueza, propiciando a acumulação do capital. Assim, o aprimoramento dos métodos e instrumentos da acumulação de riquezas ocorreu apenas na Europa, que diferente de seus “concorrentes” foi a única a propiciar tais condições.
O autor ainda soma a estes fatores o uso correto dos recursos vindos do colonialismo, foi importante para a existência da Revolução Industrial, mas debate sua imprescindibilidade. Ele defende que os primeiros recursos da conquista, especialmente na Espanha, não foram reinvestidos na produção, então pouco ajudaram no processo que levou à industrialização. Mais importante para tal finalidade, segundo o autor, foram os lucros obtidos na exploração dos territórios coloniais, pressionando a economia européia com uma maior demanda de produtos industrializados, e contribuindo para a reformulação da produção européia. Ainda assim, o autor defende que a demanda interna foi um fator mais significativo do que a externa no tocante às causas da Revolução Industrial.

1 Comentários

  1. Seja bem-vindo Henrique! Muito bacana a postagem. Um dos primeiros trabalhos apresentados em sala. Valeu por compartilhar. T+

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