O Que é História Moderna?




Segundo Marc Bloch, "a História é o estudo do homem no Tempo". Neste sentido, para a compreensão dos processos históricos, ou seja, das sequencias de acontecimentos relacionados entre si, o estudante e o pesquisador da história tem a necessidade de estabelecer "marcos" e períodos. Tradicionalmente, embora existam críticas em relação a esta visão (trataremos delas oportunamente), a história foi demarcada em quatro períodos: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Contemporânea. Embora arbitrárias, estas divisões tem o objetivo de organizar o tempo, a partir de características que predominam em cada uma destas fazes. Trataremos, assim, do terceiro período.

A Idade Moderna

O período moderno tem seu inicio na superação da crise feudal onde as formas de organização social, política, cultural, entre outras, articuladas anteriormente pela religião entraram em colapso. Este se deu pelas contradições internas do sistema feudal na Europa, em especial na esfera articuladora, onde o discurso de tom igualitário era profundamente contrário às relações sociais predominantes. Os mecanismos de superação desta crise nas diversas esferas de existência conferem, então, as especificidades do modernismo europeu.

Na esfera da cultura, como fruto deste processo histórico, surgiu o renascimento, onde há uma secularização do pensamento, em oposição ao pensamento religioso. Ele nasceu na elite burguesa do norte da Itália e foi gradualmente se expandindo social e geograficamente. É importante notar aqui o fato de o renascimento surgir em um ambiente urbano. O investimento na arte passou a ser uma forma de a classe burguesa buscar um “enobrecimento”, e também uma forma de propaganda empresarial: O fato de um patrono poder gastar financiando artistas legitimava seu poder.

Na religião, o papel da igreja foi contestado através da proposta de novas interpretações da bíblia. Isto gerou a fragmentação do poder da igreja e sua subordinação ao estado, reforçando o processo de laicização da sociedade. Assim, o Estado Absolutista tomava o lugar de “amarração” das demais esferas e dos interesses sociais conflitantes, provendo (ou tentando prover) equilíbrio entre eles. Sua formação se dá sobre a formação e delimitação de fronteiras (no contexto da formação dos Estados Nacionais), concentração do poder político nas mãos do rei e na burocratização deste poder através da delegação aos subordinados. Este estado tem então a função de moderação, devendo a ele polarizar e resolver os conflitos.

Na esfera econômica, a superação da crise feudal se deve aos descobrimentos e ao colonialismo. Para que os primeiros ocorressem foram necessários desbloqueios de ordem técnicas (na criação de utensílios físicos para as navegações) e mentais (dados através da superação do misticismo e das superstições medievais). Segundo Fernando Novais, cabia à colônia dar suporte para o desenvolvimento econômico da metrópole, que para garantir este, criava mecanismos de monopólio comercial, e para maximizá-lo, implantava o trabalho escravo, havendo uma preferência pelo negro africano. Esta preferência, segundo o autor, se deve ao fato de que ao dominar o comércio de mão-de-obra (campo muito lucrativo), maiores eram os lucros da metrópole. Isso foi facilitado pelo fato de a escravidão, segundo John Thornton e Alberto da Costa e Silva, já ter raízes fortes nas sociedades africanas.

O Fim da Modernidade Européia

Como já dito, o papel do Estado Absolutista era o de mediar as disputas no período moderno, e este fato está diretamente ligado à crise desta forma de governo. Esta intervenção, principalmente a econômica, fortaleceu a burguesia, que diferenciou seus objetivos dos da nobreza e passou a buscar suas próprias metas. Assim, a principal diferença que se nota entre a burguesia e a nobreza é a forma na qual estas lidam com o capital: a primeira o acumula e reinveste visando a maximização dos lucros, enquanto a segunda busca somente o enriquecimento. Desta forma, através da burguesia, o capital entra na produção, deixando de estar somente na  circulação. O aumento da demanda, somado à esta acumulação e ao seu investimento, gera um processo de mecanização e a separação do produtor do processo de produção. Tem inicio o capitalismo.

Para Ellen Wood, o capitalismo é um sistema social no qual o mercado se impõe aos agentes sociais, dominando-os. Ela nota sua origem no sistema de arrendamento de terras, ocorrido na Inglaterra do séc. XVI, onde, por conta dos grandes proprietários de terra não terem meios extra-econômicos de conseguir tirar maiores rendas de seus arrendatários por meios coercivos diretos, estimulavam a competitividade não só no que toca o setor mercantil, mas também em questões de produção.

Referências:

WOOD, Ellen M. – A origem do Capitalismo. Ed. Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2001.

THORNTON, John Kelly – A África e os africanos na formação do mundo Atlântico, 1400-1800. Trad. Marisa Rocha Motas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004

SILVA, Alberto da Costa e - A Manilha e o Libambo: A África e a escravidão de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Fundação Biblioteca Nacional, 2002

NOVAIS, Fernando A. – Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial. Ed. Hucitec, São Paulo, 1979.


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