Anonymous : por trás da máscara, hackers revolucionários.



Anonymous : por trás da máscara, hackers revolucionários.

Antony Drugeon
09/07/2011

Eles têm apenas três anos e assustam as maiores potências, dos Estados Unidos ao Irã, passando pelo Reino Unido, mas também pelas firmas multinacionais. Quem são os hackers de “Anonymous”, esses piratas informáticos expertos na arte de tirar do ar um site?

Ao longo dos cyber-ataques, esse movimento de contornos borrados, enésima progenitura da cultura web, deseja de fato passar uma mensagem: a defesa da liberdade de expressão por todos os meios, mesmo ilegais.

Defendendo o vazamento de documentos confidenciais do Wikileaks, ou se voltando tanto aos governos tunisiano e egípcio durante as revoluções nesses países como à Hadopi[1] na França, os “Anons” se impõem no debate público. Mas seu desafio das leis lhes valeu serem vigiados e perseguidos pelas polícias do mundo inteiro.

Os “melhores golpes” dos Anonymous

A cientologia:

Em 2008 os Anonymous apareceram aos olhos de um – relativo – grande público fazendo uma declaração de guerra tão solene quanto ambiciosa contra a cientologia. “É o que provavelmente popularizou os Anonymous”, segundo Guillaume Champeau, redator-chefe do jornal on-line Numerama.com, questionado no estúdio de Arrêt Sur Images.[2]

Wikileaks (operação resposta):

Mas foi apoiando Wikileaks que os Anonymous se tornaram verdadeiramente o incômodo número um da web. No momento em que o vazamento de documentos confidenciais havia semeado a confusão nas relações internacionais, as empresas próximas de Wikileaks (Paypal, Mastercard e Visa) tiveram que cortar relações com o site dirigido por Julian Assange. Privado de recursos financeiros e na falência de sua glória o site Wikileaks recebeu então a ajuda dos Anonymous, decididos a vingar esses outros partidários da liberdade total de informação.

Neste meio tempo, os piratas de Anonymous tinham se digladiado com os detentores dos direitos dos estúdios hollywoodianos em nome do direito de partilha de arquivos. Uma perfeita ilustração da guerra entre internautas e a indústria de cinema ou de música, sob o nome código “operação Payback”.

A Primavera Árabe:

As revoluções árabes permitiram aos hackers de desempenhar um papel igualmente político, mas mais consensual. Apoiando os revolucionários, os piratas lançaram ataques contra os servidores governamentais na Tunísia, depois no Egito.

Os Anonymous se interessam pela França? [o jornalista se vê obrigado a incluir este trecho já que o grupo foi fundado em território francês, ao que se sabe. [N.do T.]

Uma conta no Twitter se apresentando como “Anonymous France” existe, e muitas discussões na internet de “hackitivistas” franceses foram descobertas. Mas o único acontecimento maior na França dos piratas Anonymous é a ameaça de excluir da internet Frédéric Lefebvre, então porta-voz da UMP[3], brincadeira que foi na realidade uma promoção midiática para o movimento, e sua luta contra a seita cientologia. Apenas um “LOL”, pois. Salvo para Frédéric Lefebvre.

Por que essa máscara?

A única “face pública” dos Anonymous é essa máscara, que é inicialmente aquela que esconde o rosto de V, o herói do HQ “V for Vendetta” (V de Vingança). O filme do mesmo nome (2006) popularizou mais ainda essa máscara sorridente.

Esse personagem, muito culto e anarquista, busca libertar seu povo da opressão de um governo autoritário, despertando os cidadãos, mas também sem hesitar a usar a violência.

Mas a referência a essa máscara parece ser muito mais um vago piscar de olhos do que a declaração de fé política.

Podemos ligar os Anonymous a uma ideologia?

Niilistas, anarquistas, os Anonymous? Seu discurso glorifica a liberdade de expressão, conspurca o autoritarismo, recusa os compromissos. O tom de seus comunicados é como que calmo e exaltado ao mesmo tempo:

“Anonymous fez sua escolha. Nós tomaremos partido. Nós levaremos nossa ajuda às pessoas que lutam pela liberdade de expressão, de reunião, e de comunicação – os direitos civis essenciais para os povos a fim de construírem seus próprios futuros.

Nós não perdoamos.

Nós não esquecemos.

Tema-nos”.

Os Anonymous seriam românticos revolucionários enamorados da liberdade, guevaristas da web 2.0? Um simpatizante francês desse movimento, que requer evidentemente o anonimato, tem outra opinião:

“Eu acho que esse tipo de movimento que utiliza muito o LOL e a retórica de uma linguagem absurda e violenta parece muito com o movimento dadaísta do entre - guerras”.

O LOL, um programa em si? A declaração de guerra à cientologia se faz em nome da (sua) diversão, enquanto que a derrubada de sites é considerada por esses “hackivistas” como sit-in eletrônicos, o equivalente virtual de uma simples manifestação. Uma piada ou uma reclamação sem conseqüências.

Um comunicado dos Anonymous veio, portanto, explicar que o roubo de dados bancários, do qual a Sony os acusava, não se encaixava nas suas práticas. Os Anonymous cultivam uma imagem de piratas atacando-se ao FMI em apoio à Grécia, às multinacionais como recentemente a Apple, muito mais do que a particulares.

Os Anonymous têm um chefe?

A questão não foi resolvida: geralmente, quanto mais nós somos partidários dos Anonymous, mais respondemos negativamente. Ao contrário, os adversários desta retórica de “ação-limpa” destacam a presença provável senão de um chefe, ao menos de líderes influentes. De fato, eles não precisam de chefe para levar a cabo seus ataques.

Muitos pensam, então, que Anonymous é mais um estado de espírito e uma maneira de proceder do que uma estrutura com uma lista de membros e uma divisão de trabalho interna.

Como agem?

Para que um site da escolha deles sai do ar, “basta” que muitas pessoas se conectem a ele ao mesmo tempo. Para facilitar esse gênero de coordenação, os Anonymous utilizam um programa, chamado Loic, que pode amplificar suas solicitações na web. Saturado por este excesso de transferência de dados o site trava. Somente 3000 pessoas assim equipadas teriam sido suficientes para a operação Riposte contra Paypal, Mastercard e Visa.

O mais duro é simplesmente se conectar, o que eles conseguem fazer algumas vezes nos sites de partilha de imagens como 4chan, ou em protocolos IRC, caixas de mensagens instantâneas familiares entre os geeks.

Quais críticas eles recebem?

Eles são acusados com freqüência de se servirem de jovens sem competência e vulneráveis. São chamados de “skiddies”. São jovens, curiosos para fuçar em seus computadores, que se deixam convencer que tornar-se pirata é fácil. Eles recebem uma notícia pronta e partem ao assalto de tal ou tal site... Mas eles são sempre facilmente detectáveis, por não saberem disfarçar suas conexões.

É assim que a imprensa pôde fazer sensação com a descoberta (pelo FBI) em Auvergne de um “cérebro dos Anonymous” de 15 anos apenas.

[1] Haute Autorité pour la diffusion des œuvres et la protection des droits sur internet [N. do T.].

[2] Site de debate e discussão sobre as mídias, mas principalmente sobre a televisão: http://www.arretsurimages.tv/ . [N. do T.]

[3] UMP (Union pour um Mouvement Populaire), principal partido de direita da França, do qual faz parte o atual presidente Nicolas Sarkozy. [N. do T.]




Tradução: João Gomes da Silva Filho.

2 Comentários

  1. não concordo e nem discordo, muito pelo contrario.

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  2. Bastou o FBI encerrar o Megaupload para que o Anonymous voltasse a "dar as caras" novamente. Os Anonymous assumiram os ataques aos sites da Justiça Americana, Universal Music, Associação Cinematográfica (MPAA), da Associação da Indústria de Gravação da América (RIAA)e do FBI. O nome da operação é #OpMegaupload ou #OpPayback. Basta conferir os Tuítes de @anonops e @youranonews no dia 19 de janeiro as 19horas.

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