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UMA BREVE HISTÓRIA DA RECICLAGEM - IMAGEM ILUSTRATIVA |
Naquele momento histórico, a reciclagem ainda era tema pouco debatido, todavia, a conservação de materiais e a parcimônia no uso e guarda de produtos, era algo comum, afinal, antes do boom econômico que seguiu após a segunda guerra mundial, não existia o consumo desenfreado em massa, que veio a se tornar a característica da sociedade capitalista pós-guerra.
Todavia, vale ressaltar que houve dificuldade das pessoas em doar ou mesmo vender as coisas que tinham, pois era uma característica do início do século XX a guarda e o reaproveitamento de muitos materiais no dia a dia. No livro “Waste and Want: a social history of trash” da historiadora Sussan Strasser, podemos notar como a sociedade daquela época tinha dificuldades em se livrar de pertences velhos que hoje seriam considerados inúteis. Seja pela dificuldade econômica ou pela própria cultura, o fato é que até aquele momento, não se jogava nada fora.
Com o final da segunda guerra mundial e a vitória do capitalismo, o mundo viveu um boom econômico, alterando os alicerces da sociedade, que passou a consumir muito mais, devido à maior oferta de produtos advindos da evolução das tecnologias. O produto interno bruto da maioria dos países cresceu em relação ao período anterior a guerra. De 1950 em diante, os EUA passou a ser o modelo ideal de sociedade capitalista, onde a produção e o consumo andavam lado a lado. Foi uma era pujante de fato, mas até que ponto sustentável?
Durante os primeiros anos após o final da segunda guerra e o consumismo incentivado pelos governos capitalistas, ninguém mais guardava nada, já que a oferta de novos produtos era intensa. Guardar coisas velhas passou a não ter mais sentido, pois os anos de dificuldades haviam ficado para traz.
Apenas em 1970 é que a sociedade americana passa a preocupar-se com a questão da reutilização, pois a criação dos chamados produtos descartáveis, trouxe sérios problemas de manejo do lixo. O debate deflagrado discutia sobre como conciliar produção e consumo, tendo em vista que a população global crescia rapidamente. A americana Rachel Carson questionou em seu livro “A primavera silenciosa”, o consumo em larga escala e o problema da poluição.
Em 1980, nasce o termo “Eco desenvolvimento”, criado pelo economista Ignacy Sachs, fundador do Centro Internacional sobre Pesquisa e Meio Ambiente da cidade de Paris, que tinha como principal objetivo fomentar as discussões e as pesquisas sobre a temática.
Diante de tal conjuntura, os resultados desses debates apontaram a necessidade de regulamentar e tornar mais eficiente à cadeia de produção, verificando as melhores possibilidades de reaproveitamento de recursos renováveis e não renováveis, bem como, os efeitos sobre a água, o solo, o ar, a biodiversidade, etc.
O lixo, que desde 500 a.C. na cidade de Atenas já era tratado com alguma preocupação, no século 20 passa a receber muito mais atenção. Nas cidades antigas, o lixo era jogado cerca de 2 km longe das muralhas de proteção das cidades, naquilo que chamavam de lixão municipal, todavia, nenhum tratamento era realizado e logo as pessoas começaram a ter maior contato com os dejetos devido ao grande acúmulo. A situação trazia doenças para as cidades que passaram a conviver com a morte de pessoas devido aos problemas relacionados ao lixo. A situação só melhorou com o surgimento de novas tecnologias de engenharia urbana e técnicas de gerenciamento dos detritos. No século 19, as indústrias começam a guardar seu lixo em latas e contêineres antes de serem levados pelo serviço especializado de coleta que fora criado.
Com o passar dos anos e o aumento do consumo, esse serviço de coleta de lixo teve de se adaptar aos desafios inerentes a sua prática. A forte industrialização transformou rios em alternativas para escoamento de detritos, lagos também eram utilizados, além de terem sido criados os chamados aterros sanitários que ficavam longe das cidades.
A questão do reaproveitamento do lixo começa, portanto a adquirir uma complexidade nos campos social e ambiental, bem como, no econômico.
Em 1987, um grupo de especialistas, liderados pela primeira-ministra da Noruega Gro Brutland, divulga um relatório chamado “Nosso Futuro Comum” que havia sido encomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Através desse documento, o conceito de desenvolvimento sustentável torna-se conhecido, transformando o relatório num marco para as discussões a cerca do meio ambiente.
O tratado de Montreal, também é considerado um dos momentos mais importantes para o meio ambiente, pois proibiu o uso dos clorofluorcarbonos nos equipamentos domésticos, como a geladeira, por exemplo. Conceitos como desertificação, extinção das espécies, aquecimento global, ganharam muita força e se tornaram pauta em debates ao redor do mundo em diferentes países. A partir dessas discussões foram criadas as primeiras leis de proteção ambiental em diversos países, visando à diminuição de emissão de poluentes em rios e na atmosfera.
Com a realização da ECO92 no Brasil, a palavra reciclagem volta à tona nos debates e passa a ser amplamente discutida em todos os setores, mas desta vez com uma nova conotação. Surge, portanto o conceito dos três Rs – reduzir, reutilizar, reciclar.
Desde então, os conceitos de reciclagem e sustentabilidade tem sido amplamente discutidos e melhorados. Todos nós sabemos que uma mercadoria industrial, seja ela qual for, é resultado de uma transformação dos elementos que a natureza nos fornece, portanto o desafio é como devolver esses elementos a natureza sem agredi-la. O relatório de Avaliação Ecossistêmica do Milênio publicado em 2005 pela ONU diz que “as atividades humanas estão exaurindo a função da Terra de se autorregenerar, a ponto de tornar uma incerteza à capacidade dos ecossistemas de sustentar gerações futuras”. Ele também acrescenta que é preciso urgentemente que os países se adequem as novas resoluções, criando leis e fiscalizando todos os setores produtivos. Diante dessa conjuntura, a reciclagem passou a ser o conceito chave para o ciclo sustentável do planeta.
Rafael Bensi
Bibliografia:
CAVALCANTI, Pedro & Carmo Chagas. História da embalagem no Brasil. São paulo, Griffo, 2006.
STRASSER, Susan. Waste and Want: a social histoty of trash. Nova York, Metropolitan Books, 1999.
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