A Arte, O Artesão e O Funcionário no Antigo Egito

O Egito dos Faraós é um dos mais antigos exemplos de monarquia absoluta fundamentada no "direito divino", a única diferença é que o Faraó era considerado o próprio Deus e não um Homem com o direito de governar cedido por ele.

Parede decorada com relevos em Karnak, Egito, representando artesãos trabalhando em suas oficinas.
A arte e o trabalho manual eram valorizados na civilização egípcia e tiveram um papel importante no desenvolvimento da sociedade.

A maior dificuldade para um Historiador escrever sobre o tema é a carência de fontes escritas, se formos pesquisar nos milhares de livros que existem sobre o assunto, todos eles trazem as mesmas informações escritas de forma diferente. Este é um dos motivos deste artigo ser focado nos artesãos e funcionários, para contribuir trazendo algo que ainda não é muito difundido pelos livros, por ser muito específico. Falar destes profissionais, ajuda a entender sobre toda a cultura egípcia e a forma que eles pensavam e valorizavam estes profissionais, afinal a maioria das artefatos que sobram nos dias de hoje, são fruto do trabalho dos artesãos que os faziam em nome dos deuses para a eternidade.

O artesão e o funcionário eram personagens em destaque na História Egípcia, estes profissionais eram divinos dentro deste contexto, já que o seu trabalho era tido como um tributo aos Faraós, ou seja, aos deuses. Eles eram pessoas ilustres dominavam varias artes, dentre elas a escrita, a matemática, a física, e inúmeros outros conhecimentos, pois não podiam falhar, caso isso acontecesse as punições eram severas.

O funcionário

Na bíblia, um documento muito importante do mundo antigo, mais especificamente no livro de Gênesis, existe um romance que se passa, supostamente na 19ª dinastia. Um Hebreu conhecido como José, levado para lá vendido como escravo por seus irmãos, filho de pastores de ovelhas, que se tornou chefe da administração do Egito por ter interpretado um sonho do Faraó. Ele havia sonhado com sete vacas gordas e sete vacas magras. Segundo o texto bíblico, o Estado Egípcio era soberano quanto ao poder, riqueza e dimensões. Na obra contida no livro de Gênesis, podemos constatar que José exerceu o cargo de governador do Egito estando abaixo apenas do Faraó, e subtraindo o sentido bíblico que enfatiza José como um simples pastor de ovelhas, ou pergunto; Será que o era? Acho que não podemos saber ao certo se a resposta seria sim ou não, mas podemos analisar o papel que José desenvolve como administrador do Egito, e o tipo de aptidões que eram exigidas de um funcionário público, para que este governasse um império do porte do Egito na época, no meu ponto de vista, seria difícil este exercer um cargo de tamanha importância, com tanto sucesso como descrito na própria bíblia se fosse apenas um pastor de ovelhas sem instruções.

Segue um trecho da bíblia que descreve o momento que José é nomeado pelo Faraó para que possamos analisar melhor.

Gênesis cap. 41

  • 41 Disse mais Faraó a José: Vês que te faço autoridade sobre toda a terra do Egito.
  • 42 Então, tirou Faraó o seu anel de sinete da mão e o pôs na mão de José, fê-lo vestir roupas de linho fino e lhe pôs ao pescoço um colar de ouro.
  • 43 E fê-lo subir ao seu segundo carro, e clamavam diante dele: Inclinai-vos! Desse modo, o constituiu sobre toda a terra do Egito.
  • 44 Disse ainda Faraó a José: Eu sou Faraó, contudo sem a tua ordem ninguém levantará mão ou pé em toda a terra do Egito.

É dificil de acreditar que José não expressava nenhuma qualificação, por mais que os egipcios consideracem muito os sonhos e suas interpretações, eles tinham uma boa matemática alem de conhecer muito o nilo, conseguiam medir fenomenos que ocorriam nele com muita habilidade, não era preciso um sonho para lhes trazer tal informação, e nem a José, porem o sonho ao que parece tem um sentido profético, tipico do discurso biblico da época, porem estes periodos de sete anos de cheias e sete anos de seca aconteceram, segundo o texto, e José mostra seu valor como administrador.

  • 47 Nos sete anos de fartura a terra produziu abundantemente.
  • 48 E ajuntou José todo o mantimento que houve na terra do Egito durante os sete anos e o guardou nas cidades; o mantimento do campo ao redor de cada cidade foi guardado na mesma cidade.
  • 49 Assim, ajuntou José muitíssimo cereal, como a areia do mar, até perder a conta, porque ia além das medidas.
  • 53 Passados os sete anos de abundância, que houve na terra do Egito,
  • 54 começaram a vir os sete anos de fome, como José havia predito; e havia fome em todas as terras, mas em toda a terra do Egito havia pão.
  • 55 Sentindo toda a terra do Egito a fome, clamou o povo a Faraó por pão; e Faraó dizia a todos os egípcios: Ide a José; o que ele vos disser fazei.
  • 56 Havendo, pois, fome sobre toda a terra, abriu José todos os celeiros e vendia aos egípcios; porque a fome prevaleceu na terra do Egito.
  • 57 E todas as terras vinham ao Egito, para comprar de José, porque a fome prevaleceu em todo o mundo.

No mundo antigo as Histórias não são ao "pé da letra", elas tem sentidos mais profundos e são passadas como parábolas para que por sua glória e feitos sejam sempre lembradas, mas o fato era que José, segundo o texto foi um exímio administrador, e a interpretação dos sonhos do Faraó, correspondiam a um ciclo de sete anos de cheias e sete anos de seca no nilo, detectados de alguma forma e que gerariam uma grande fartura seguido por anos de fome e seca. José frente a esta situação administra e gera um excedente de produção tão grande que no versículo 57 do capítulo 41 de Gênesis, ele é tido como o grande salvador, que poupou não só a terra do Egito, mas "todo o mundo" da fome, ele vende para todos as terras o que havia produzido durante os sete anos precedentes.

Porem a boa administração exercida por José é portadora de uma grande desgraça para os egípcios, ao salvá-los de morrer de fome, acaba por criar um regime de servidão, transformando o povo em escravo do Faraó.

Nos últimos capítulos de Gênesis, o autor tem um aguçado sentido da realidade e utiliza a História de José para explicar o sistema egípcio, tão diferente do sistema que os hebreus tinham instalado em sua terra ou observados em países vizinhos, demonstrando que ele surgia em circunstâncias catastróficas e que a administração tinha explorado uma calamidade natural em proveito do Faraó. Todavia sabemos que este regime foi criado pelos próprios Egípcios.

O surgimento e as características do regime Egípcio de servidão

Ausência de uma moeda (todos os preços, mesmo os mais elevados, são taxados em prata, mas têm um equivalente em objetos na Bíblia, isso se explica pelo fato de toda prata ter sido entregue ao erário, que é o equivalente ao tesouro nacional de hoje).

Ausência de gado ou terras pertencentes ao povo (dados ao erário nos anos carestia, que se resume nos anos de escassez de produtos necessárias à vida)

Na época de escassez, ocorreu uma escravidão generalizada em relação ao Faraó (uma espécie de venda de si mesmo durante a carestia)

Hierarquia Organizacional

Graças ao escriba Amenopes, podemos entender a organização administrativa do Egito na antiguidade, a enciclopédia escrita e assinada por ele, o que era muito raro no antigo Egito, dá-nos importantes informações, é o único documento que chegou até hoje, por relatos de um escriba descrevendo a hierarquia organizacional egípcia. A administração é toda relatada nesta obra, e os detalhes fornecem-nos uma rica fonte de informações. Esta obra traz-nos a casa do Rei, como sendo uma instituição singular e misteriosa que, a obra descreve não só profissões administrativas como trabalhadores não vinculados a tal cargos, jardineiros títulos, graus, denominações de profissões, etc. e que vai desde o herdeiro do trono (antes do qual vem os membros da família real, sem qualquer laço com a administração) até os trabalhadores agrícolas, ao jardineiro, ao cultivador, ao hortelão e ao guarda do estábulo.

Os escritos referidos aos funcionários, aparecem logo no início do manual, se tratando em primeira instância à casa do Rei. Nela, mostra que não é constituída por homens, porque o rei não é um homem, mas um deus. Os empregados da casa do rei são algo mais que humanos, ou seja, do que aqueles que não fazem parte desta casa. Lá se incluem funcionários, soldados, sacerdotes, artesãos e trabalhadores agrícolas.

Portanto no quadro de pessoal desta casa, temos um terço constituído por funcionários que eram apenas uma das outras quatro classes que compõe a casa: soldados, sacerdotes, artesãos e os escravos que trabalhavam na agricultura (não confundir com os que são apenas escravos). É importante lembrar que as três principais divindades do país (Amon, Ra e Ptah) são mencionadas entre os cargos dos funcionários, o que reforça a idéia já relatada, que estes eram certamente considerados como divindades.

O princípio de Hecateu

Vamos abordar o principio Hecateu, formulado por Herodoto.Hecateu foi um dos primeiros viajantes a descrever o Egito, enalteceu a antiguidade e a nobreza de sua linhagem, que remontava a um número limitado de gerações e o ligava à divindade. Os sacerdotes lhe mostraram mais de trezentas gerações de sacerdotes de Ptah, o que tornava a sua ascendência incrivelmente antiga e não remontava a nenhum deus. Desse modo demonstraram a Hecateu que nenhuma origem humana podia remontar diretamente a um deus, muito menos à dos gregos, que não eram tão antigos.Sobre a teoria da distinção nítida que existe entre o que e próprio do deus/rei e o que e próprio do homem/súdito, tinham recorrido a um argumento não totalmente coerente: à estirpe dos sumos-sacerdotes de Ptah remontava de fato à divindade, a Ptah.

Os Funcionários Deuses

Embora sendo difícil explicar aos estrangeiros (nos por exemplo), Imhotep era um deus de tipo peculiar, um deus em que os funcionários egípcios de alto nível se transformavam, depois de mortos. No antigo Egito, sobretudo nas primeiras dinastias, os proprietários de túmulos são na maioria funcionários. Segundo a crença egípcia, era graças a imagens (dotadas de olhos, claro) estampadas nos túmulos, que o defunto era capaz de ver. Ver o seu próprio túmulo que era um local de culto onde existiam nas paredes textos e imagens, para recordar de quem era e qual o cargo que tinha. Os proprietários desses túmulos tornavam-se iluminados, ou seja, profeta, um sábio, capaz de entrar em contato com os homens (normalmente por escrito, forma habitual para um funcionário). Devido à posição importante que ocupava em vida e que conservava em outro mundo, o funcionário pode ajudar os homens. Alguns destes homens foram venerados e considerados como uma espécie de deuses. Os títulos dos funcionários são associados aos deuses e interpretados no quadro de uma relação filial com eles.

A Instrução

Na bíblia foi omisso o grau de instrução de José, apenas é destacada sua capacidade de decifrar sonhos, mas se analisarmos o Egito, e sua cultura um funcionário tinha que, saber ler e escrever corretamente, saber fazer contas, conhecer as operações matemáticas, calcular áreas e volumes, e possuir determinadas noções de engenharia. Devia desempenhar cargos de todos os gêneros, e com perfeição, pois as conseqüências poderiam ser muito graves.

Existe um caráter especial para o que chamamos de ensino. Se um indivíduo fosse letrado, certamente seria um funcionário. Na realidade a instrução também era utilizada em outros domínios, escribas artesãos (que reproduziam na pedra os contornos das inscrições para os escultores e os desenhistas de hieróglifos) e para os sacerdotes, sobretudo os ritualistas, cuja profissão estava ligada ao oficio de copista de livros sagrados.

A partir da 4ªdinastia, parece ter surgido à possibilidade dos filhos dos funcionários estudarem junto com os filhos do rei, em uma escola do palácio. Na escola do palácio além de aprender a escrever, fazer contas, cantavam (em coro) os textos sagrados, aprendiam a nadar (o que era muito importante num país fluvial) e desenvolviam o amor pela literatura. Estudar com os futuros reis dava imensa possibilidade de carreira dos indivíduos, existia uma fraternidade que durava a vida toda. Como o Egito era um país de grande extensão, provavelmente também existiam escolas de província o que indica a existência de uma escrita cursiva padrão, praticamente único em todo o território. No final da 8ªdinastia, uma revolução colocou fim a velha monarquia. Essa revolução não acabou com a velha classe de funcionários, mas desferiu-lhes um profundo golpe.

A categoria dos funcionários

O autor da história de José realça intencionalmente as origens humildes do seu herói, pois como já disse antes existe um sentido profético na bíblia que enfatiza tal acontecimento como sendo algo extraordinário. Mas, do ponto de vista egípcio nada tinha de excepcional. Eles gostavam de descobrir talentos nos locais mais improváveis. Tanto isso é verdade que o vizir Ptahotep, da segunda metade da 5ª dinastia diz "a linguagem mordaz é mais preciosa que uma esmeralda, mas que se pode encontrar numa escrava que mói o trigo".

Pelo menos na teoria, a origem não era barreira para a carreira de um funcionário. Vemos, também, que os não funcionários poderiam matricular seus filhos na escola onde estudavam os filhos dos funcionários e que isso não era considerado nada de extraordinário. Normalmente os cargos dos funcionários eram hereditários. A transmissão do cargo de funcionários era de pais para filho e até entre parentes. Foi uma prática bastante estável e era um meio de garantir a velhice do funcionário.

Porém, acontecia exceções: um funcionário morrer sem deixar herdeiros, cometer um crime, desagradar alguém, cair em desgraça junto ao rei, etc. Nos decretos reais e nas inscrições dos próprios funcionários ouvimos falar constantemente de transferências e punições de funcionários, cujo perigo existira desde sempre, sob a forma de processos, bastonadas, mutilações e execuções capitais. Também se encontra com freqüência à ameaça de retrocesso da posição social dos funcionários punidos, com a transferência para a classe de agricultores.

A manutenção dos funcionários

Os benefícios eram distribuídos diretamente pelo palácio sob a forma de trigo, roupas e vasilhames do tesouro. A entrega direta de alimento na casa do funcionário, que vivia na capital, só ocorria no caso de ele gozar um favor especial ou estar em idade avançada.O recebimento de uma certa quantidade de pães e um jarro de cerveja era uma grande honra, mesmo para um vizir.No geral, o rei concedia aos funcionários mais do que ocasionais rações alimentares, nos túmulos dos funcionários existem figuras expressando abundantes propriedades pessoais, constituídas por inúmeras aldeias, escravos e milhares de cabeça de gado.

Contribuição do funcionário, na cultura do Egito

A contribuição desta camada social tem expressão nos monumentos do antigo Egito que conhecemos até hoje. Não podemos atribuir-lhes a parte artística, mas a parte arquitetônica, a organização, os homens, os utensílios, os transportes e as decisões.Na literatura, deve-se aos funcionários à afirmação de gêneros como a autobiografia (nasceu do costume de mencionar os inúmeros títulos que ostentavam, queriam mostrar sua linhagem nobre no outro mundo) e a didática (assumiu a forma de conselhos dados aos mais jovens).Devemos aos funcionários o texto científico (sobre matemática) mais antigo do mundo, contido no papiro Golenisev. Eles conheciam o comprimento do Egito de norte a sul, equivalente a 106 milhas fluviais. Esse número já era conhecido por Sesostris no século XX a C. Aliás, Eratostenes utilizou deste valor para realizar o primeiro cálculo das dimensões do globo terrestre.

O Artesão

O nascimento de um artesão em uma determinada cultura, revela-se, em arqueologia, através de testemunhos materiais e, para o historiador, através de manifestações de uma estrutura social adequada a essa situação particular. Descobrem-se as obras antes de se começar a conhecer os homens que a idealizaram e executaram. Todos os estudiosos do pré – história são unânimes em ver nessas realizações a prova de uma subdivisão já rigorosa das tarefas no interior das sociedades respectivas, que daria a esses homens um número considerável de horas livres, para exercerem o seu ofício, e isso bastante antes da criação do Estado egípcio.

Destas épocas conservamos sobretudo a memória da atividade de oficinas artesanais, o fabrico de vasos de pedra, corte do sílex, modelagem da cerâmica, etc. – que nos foi transmitida pelas instalações profissionais e, ao mesmo tempo, pelos produtos acabados e sepulturas dos artesãos, identificáveis pelos utensílios que contêm. Desde as primeiras dinastias que aos testemunhos de formas artesanais mais numerosos se juntam os vestígios dos grandes estaleiros urbanos que então reuniram uma mão-de-obra forçosamente considerável em alguns centros espalhados por todo país: a capital Mênfis, as capitais de distrito dos antigos reinos do Sul e do Norte, Hietacômpolis e Buto, Elefantina, Edfu, El Kab, Abidos e muitas outras.

São as casas dos descendentes desses homens que, sobretudo a partir da 14ª dinastia, nos dão as primeiras indicações acerca da organização e do nível de vida dos construtores das pirâmides.

As altas individualidades mandam reproduzir, nas paredes dos seus túmulos, o trabalho dos seus súditos, e há casos em que essas cenas são acompanhadas por informações acerca do estatuto socioprofissional dos homens evocados. Essas mesmas individualidades comparam-se em mandar esculpir nas paredes os relatos das missões que desempenharam com êxito em nome do faraó; entre elas, incluem-se os relatos pormenorizados de empreendimentos arquitetônicos e de expedições a pedreiras longínquas.

À medida em que vai se avançando o tempo, as fontes já citadas vão se enriquecendo com as novas espécies de documentos. Assim, no Médio Império, às ruínas de monumentos, de casas e de lojas, às cenas de trabalhos de artesão reproduzidas nos túmulos dos clientes e aos grafitos, vêm juntar-se aos arquivos de certos estaleiros, em contextos diversos, que se referem a uma mão-de-obra livre ou escrava, bem como as estelas funerárias, onde não só os clientes que se fazem retratar juntamente com seus empregados, mas também acontece o contrário. Ao mesmo tempo, os relatos das expedições às minas e às pedreiras não se limitam a evocar os responsáveis, mencionam também os operários especializados, a mão-de-obra e os encarregados da administração. O Novo Império multiplica e diversifica ainda mais os mapas administrativos, as reproduções, as aldeias operárias permanentes ou temporárias, os testemunhos etnológicos e as manifestações de religiosidade popular. Por isso, os nossos estudos de cada um dos aspectos principais do tema artesão, não podem deixar de respeitar os limites de uma exposição cronológica.

Classificação dos artesãos

Operário – designa a maioria das pessoas que nos interessam, ou seja, o trabalhador manual em geral, seja qual for a sua qualificação.Artesão – mais do que designar o exercício de um trabalho manual por conta própria, exprime a posse de uma técnica particular ou de uma arte, acepção que se aplica a uma parte importante das situações analisadas.Artista – habilidade técnica do executor de uma obra e a conseqüente satisfação de quem a tinha encomendado. Aliás, só excepcionalmente é que a identidade do autor de uma obra de arte é conhecida, e são raros aqueles que foram distinguidos pelo faraó, fazendo-os sair do anonimato.

Os homens e a sociedade

No Egito, é no túmulo que se concentram os elementos mais importantes da personalidade do homem. A preponderância reconhecida do além eterno sobre o presente provisório torna-o instrumento privilegiado da memória. O rosto do defunto perpetua-se nas estatuas; o seu nome, as suas funções, os seus títulos estão gravados nas portas, nas paredes e nos vários ornamentos funerários.A casa, menos carregada de mensagens escritas e de materiais do que o túmulo revela, porém, de forma eloqüente a posição dos seus ocupantes na sociedade egípcia da época.Os arquivos das instituições ou das fundações onde os artesãos trabalhavam também nos dão garantias de autenticidade, mas propõem uma abordagem diferente e complementar: de fato, referem-se, com uma precisão variável, à origem geográfica e social dos operários, à sua identidade, às qualificações e aos seus cargos; enumeram as tarefas que eram confiadas a uns e a outros especificam o montante dos salários de acordo com as funções, as vantagens e as recompensas, e mencionam os castigos em vigor.

O Antigo Império

Antes de o sistema de escrita passar a ser de uso corrente, a partir da 1ª dinastia, os únicos indícios creditáveis são os utensílios.Os artesãos costumavam mandar depositar nos seus túmulos os utensílios que os definiam socialmente. Foi assim que tornou-se possível, conhecer o nome de Bekh, gravado em duas machadinhas, e o Kahotep, imortalizado na lâmina de um machado: duas personagens que estavam ao serviço do rei Djer, mesmo depois de mortos. Esta prática muito corrente nas necrópoles reais de Abidos e de Sacará durante toda a época tinita.

Os homens assim distinguidos são mestres escultores ou mestres de construção naval, e os monumentos que os recordam são as estelas, vasos de pedra ou estátuas.A inscrição, no túmulo, de uma identidade cada vez mais precisa – nome, títulos, efígie, que são garantias de eternidade – parecem ser um privilégio partilhado não só pelos altos funcionários, mas também por alguns artesãos. Estes são, provavelmente, os mais apreciados do seu tempo, mas já não desejam ser sepultados exclusivamente junto do túmulo real.

Os mais modestos, os pedreiros, carpinteiros, curtidores, fundidores, operários metalúrgicos e escultores, deixaram o seu nome em tábuas votivas, vasos para libações e estatuetas. São provavelmente, contemporâneos dos que viveram nos casebres de pedra de uma ou duas divisões construídos em frente das minas do Wadi Maghara, quando se dirigiam ao Sinai para aí explorarem as jazidas de cobre e de turquesa. Os mineiros, porém, ainda figuram nas listas dos membros dessas expedições. Quanto aos mestres das obras e das oficinas artesanais, é freqüente acumularem responsabilidades técnicas e cargos de confiança de vários gêneros. Embora sejam representados freqüentemente enquanto executam um trabalho manual em que talvez fossem a altos cargos, que evocam com orgulho nas paredes dos seus túmulos. Pertencem a uma elite reconhecida pela corte, vivem e querem ser sepultados perto da capital, Mênfis, mas podem sempre ser convocados para dirigir trabalhos e expedições nas províncias e mesmo no exterior.

O Médio Império

As profundas transformações sofridas pela sociedade egípcia durante os anos conturbados do Primeiro Período Intermediário talvez não sejam impróprias às modificações que se detectam na própria natureza das nossas fontes documentais.

A identidade é expressa pelo nome, por vezes antecedido do nome do pai e mesmo do avô, também são anotados os laços de parentescos entre irmãos.

Nos intervalos entre um estaleiro e outro, muitos trabalham como trabalhadores agrícolas e são designados pelo termo mnyw, que corresponde mais ou menos a servente, ou pelo substantivo hsbw, que realça a sua condição de registrados. Não podemos especificar totalmente o montante dos seus salários, porque são pagos majoritariamente em pães, cuja quantidade conhecemos mas cujo peso e cujas dimensões ignoramos: a ração média é de 8 pães, mas essa ração pode variar sensivelmente para o mesmo operário, de acordo com os períodos de trabalho.

O Novo Império

Durante a 18º dinastia a história das comunidades operárias é dominada pelos grandes estaleiros da margem ocidental de Tebas, a que sucederão os de Amarna e a instituição do Túmulo Real, onde através desses três conjuntos fornecem uma série de informações complementares acerca dos homens que trabalhavam nos templos funerários e nos túmulos dos monarcas do Novo Império.Os contingentes dos vários estaleiros são constituídos não só por empregados que estão, respectivamente, ao serviço do soberano, do vizir e de vários notáveis, mas também por homens oriundos de cidades situadas ao Sul de Tebas.

Dos objetos encontrados, encontram-se cadeiras e escabelos empalhados, camas com "angareb", mesas esteiras e cerâmicas, e assemelha-se muito ao mobiliário das herdades pobres de França em finais do século passado. Em Amarna, a posição dos artesãos funcionários e dos operários é totalmente diferente. Na cidade propriamente dita, das muitas casas mais luxuosas foram identificadas como tendo pertencido aos mestres escultores e aos mestres de obras que estavam ao serviço do rei e da corte. Já em Tebas, a ausência de inscrições não permite qualificação.

Os vários ofícios artesanais

São pouco freqüentes os testemunhos relativos a homens apontados como particularmente famosos no exercício da sua arte e, na maior parte dos casos, ignoramos os seus antecedentes, somente aqueles que foram homenageados por seus soberanos. Trata-se de escultores, pintores e, mais raramente, arquitetos.

Os serviços dos artesãos podiam ser emprestados, tal como o dos operários.A mobilidade não deriva do indivíduo mais de quem o emprega. Desde o Antigo Império até ao Novo Império, o soberano, os grandes proprietários, os templos e os dirigentes de todos os níveis dispunham dos seus empregados, de acordo com as necessidades. Os talentos exercem-se em contexto quer estáveis ou temporários.As mulheres que se dedicam ao artesanato são bastante raras e o seu trabalho tem uma relação ainda mais esporádica com o domínio das artes plásticas. Por isso, muita família, quer de mestres quer de subordinados, acabavam por se ver divididas.

A expressão individual na vida quotidiana

De forma geral, os meios de subsistência eram-lhes fornecidos pelas autoridades: casa, privilégios fúnebres, comidas, roupas de trabalho, etc. E de acordo com suas capacidades, exerciam os seus talentos, o que lhe permitia aumentar os rendimentos no final de cada mês.O convívio além do quotidiano era nas grandes festas das aldeias, na preparação das oferendas que serão apresentadas ou consumidas, onde o gosto pela ostentação manifesta-se também nos modestos haveres, como imóveis, terrenos e pessoais.

A expressão artística

A arte, não é um privilégio exclusivo dos deuses nem um monopólio real, eram dedicados aos clientes privados, como universalmente difundida entre o povo. É uma das expressões mais comuns no quotidiano egípcio, mas não tem nome, e os seus autores, embora reconhecido como tal pelos seus contemporâneos, não chega a ser reconhecidos pela posteridade a não ser excepcionalmente.

Bibliografia:

  • BÍBLIA. Gênesis.
  • FERREIRA, Olavo Leonel. Egito Terra dos Faraós. Coleção Desafios. Págs. 26-32 e 49-63.
  • BAINES, John; MALEK, Jaromir. Grandes Impérios e Civilizações - Deuses, Templos e Faraós - Volume I. Os Milênios - História das Civilizações - I Antiguidade - TOMO Primeiro. Págs. 62-89.
  • DONADONI, Sérgio. O Homem Egípcio. Págs. 37-57 e 81-106.
  • BURNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental - Volume 1. Págs. 53-73.
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