História da Inquisição não foi só uma "caça às bruxas" e infiéis e sim uma operação de aculturação violenta de uma sociedade em crise, peste e fome, miseria intelectual e assolada pelo medo, não existe explicação simples

A perseguição durante a “Santa Inquisição” não se limitou apenas às mulheres, mas também aos costumes pré-cristãos, como curandeiras e parideiras, que ainda eram relevantes na sociedade devido à falta de desenvolvimento da medicina. Diversas explicações históricas são apresentadas para entender a violência desse período, mas neste caso, o enfoque será nas explicações históricas.

Capa do livro Malleus Maleficarum, também conhecido como O Martelo das Feiticeiras.
Malleus Maleficarum, ou O Martelo das Feiticeiras, é um livro, ou manual inquisitorial, publicado em 1486 ou 1487 pelos dominicanos Heinrich Kraemer e James Sprenger, na Alemanha, em cumprimento à bula papal Summis Desiderantis Affectibus de Inocêncio VIII

A Inquisição e a perseguição aos costumes pré-cristãos

A “Santa Inquisição”, mais do que apenas uma caçada às bruxas e infiéis, foi um movimento repressivo, ideológico e politico feito pela igreja, junto às oligarquias pertencentes ao sistema patriarcal pré-capitalista e pré-industrial, ou simplesmente, a aristocracia formada pelas elites dominantes da época, contra as mulheres e costumes pré-cristãos (curandeiras e parideiras), que ainda eram muito importantes na sociedade, já que a medicina ainda estava “engatinhando”, segundo alguns autores que tentam explicar a perseguição, especialmente contra as mulheres, podemos considerar algumas explicações históricas e psicanalíticas bem interessantes para tentar entender tal ato de violência contra a humanidade, aqui nos interessa as históricas, vejamos a seguir.

Começando pelas explicações históricas, o marco para a luta do “bem conta o mau” feito pela igreja, teve como guia em sua fase mais destrutiva, um “manual”, o livro “Malleus Malefirarum”, que define a bruxa, os meios para reconhece-la, assim como os métodos grotescos e doentios para faze-la confessar a sua bruxaria, estamos falando aqui, do livro mais macabro que um se “humano” pôde ter escrito, seus autores, mais do que dotados de mentes sádicas e doentias, sabiam o que estavam fazendo, estes gênios grotescos chamavam-se Heinrich Kramer e James Sprenger, dois monges beneditinos inquisidores, a obra foi escrita em ano de 1484 e é resultado de um trabalho de mestre na arte de destruir e aterrorizar física e psicologicamente o ser humano e ainda justificar estes atos em nome de “Deus”.

Desmistificando as Bruxas da Idade Média: Contexto Histórico e Motivações da Igreja

Mas, a pergunta que surge é, “o porque?”, pois se perguntarmos “como aconteceu” todos sambemos, podemos ver em qualquer filme, porem a grande pergunta é; O que motivou isto? O que aconteceu na cabeça dos homens da “Santa Igreja”? Estas são perguntas muito coerentes, porque na realidade as bruxas não existem, ou não como seres dotados de poderes devastadores, e de fato os homens da igreja sabiam disso na época, o próprio S. Tomas de Aquino alega que elas existiam, mas seus poderes eram inofensivos, ele é criticado vorazmente no "Malleus", a igreja, estava tentando romper as tradições pagãs, que ainda eram fortes, a figura do curandeiro ou da curandeira xamã, que curravam através de conhecimentos milenares, da antiguidade remota, destorcida e demonizada, é a bruxa ao qual se referem na idade média, o Melleus tenta destruir estes elementos.

Para desmistificar o tema ainda mais, pode-se analisar o contexto político, econômico e social da época, durante início das cruzadas os homens começam a migrar em massa influenciados pela igreja em nome de “Deus” rumo ao oriente médio, querendo cada vez mais riquezas. A partir deste período por volta do seculo X ao XIII D.C., a agricultura evolui, devido a inovações tecnológicas no campo com a charrua e a aiveca dessimétrica, que permitiram o excedente de produção afirmando a partir de então, uma classe de beneficiados ricos, os burgueses. Estes fatos fizeram com que, a igreja se preocupasse em acompanhar estas inovações econômicas e políticas, no sentido de ganhar mais poder e manter sua influência, inicia-se uma faze de reformas internas chamada de Reforma Gregoriana dentro da instituição "Igreja" , que levou-a a ser um personagem de unificação cultural entre os diferentes povos da europa, que tinham origens muito distintas, bárbaro, romanos, celtas e inúmeras outras etnias, só assim ela seria aceita políticamente dentre as oligarquias dominantes e as novas classes de ricos burgueses. Foi isso que aconteceu, ela agiu como uma forte aliada para "nivelar" as diferenças culturais dos povos europeus evitando revoluções e acalmando agitações, mesmo que para isso tivesse que torurar e matar em nome de "Deus".

A Inquisição após a Reforma Gregoriana: A repressão contra culturas pré-cristãos

Após a Reforma Gregoriana, a Igreja com seu poder político consolidado, afirma um instrumento forte e violento de repressão cultural e social, a inquisição, que já existia, mas a maquina mortífera que veio a se tornar entra em ação partir da publicação do livro, para os membros do Tribunal do Santo Oficio. O Malleus, pode-se consider a declaração da caçada as bruxas, ou como acredito eu, a repressão reacionária contra os valores do feminino(mulher como participante ativo da sociedade, assim como na antiguidade), inclusive o de igualdade das culturas pré-cristãs e contra toda a ideologia que se considerasse Herege, podemos tomar como exemplo, a perceguição de cientistas como Galileu Galilei e Jordano Bruno, ambos julgados pelo Tribunal, sendo o segundo de menos sorte, acabou queimado na fogueira.

Nesta época, as desgraças e a mortalidade eram grandes, miséria pestes e escassez para o povo comum, riquezas e benefícios vitalícios para as classes dominantes, além dos nobres, uma classe de novos-ricos estava se formando devido aos avanços no campo, obviamente que durante este período, devido as mortes entre os humildes, os plebeus começaram a questionar a igreja e as classes abastadas, assim como as mulheres ganharam mais poder frente à sociedade, que antes era um privilegio unicamente masculino, em alguns casos ate encabeçando grandes revoltas, a figura da mãe que cura os enfermos que sobreviviam às guerras, volta a ter forca, devido a própria falta de homens gerada pela mortalidade durante as cruzadas, o numero de viúvas aumenta forçando a mulher, a agir com mais independência. Frente a este fato, a igreja manipula toda a cultura, fortalecendo a imagem do demônio personificada justamente pela bruxa, em sua maioria, mulheres. A elas eram atribuídas as culpas pelas desgraças sociais e climáticas. É a famosa historia do inimigo comum, fabricado para que as pessoas desviassem a atenção do que realmente causa as desgraças sociais, a ambição por riquezas e poder das classes dominantes junto à igreja.

Somando-se a estes fatores, existiam figuras ideologicamente contraditórias em relação à ideologia cristã, segundo a igreja, a salvação vinha de “Deus”, na comunhão com ele, e não poderia permitir-se que certos elementos remanescentes das culturas antigas e matriarcais, pudessem salvar as pessoas de enfermidades, a figura da curandeira e da parideira, pessoas que manipulavam ervas, os profetas ambulantes que eram ainda respeitados e acolhidos, que usavam conhecimentos ligados a natureza e a cura através de remédios, feitos sabiamente baseados em conhecimentos milenares, que funcionavam mais que o próprio ”Deus” apresentado pela igreja, foram a personificação do inimigo comum, nunca a imagem do demônio e da bruxa foram tão fortalecidos para gerar um pavor coletivo, fazendo com que as pessoas recorressem a soluções clericais e assim a influencia política e ideologia exercida pela santa sé se afirmou.

Importante para reflexão

Embora o texto apresente um viés crítico e negativo sobre a Inquisição e a perseguição às bruxas, é importante lembrar que o período foi marcado por guerras, pestes e violência, e a Igreja tinha um papel importante na mediação cultural para evitar a morte e a histeria. O texto foi extraído da introdução da nova edição do "Maleus Maleficarum", também conhecido como "O Martelo das Feiticeiras", que foi um manual de caça às bruxas escrito em 1484 pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger. A perseguição às bruxas e costumes pré-cristãos pode ser vista como uma tentativa da Igreja de romper tradições pagãs que ainda eram fortes e afirmar sua influência em meio às inovações econômicas e políticas do período. Portanto, é importante lembrar que há um outro lado da história que precisa ser considerado, e que a compreensão desse contexto histórico e social é fundamental para uma análise mais equilibrada e justa sobre esse tema controverso.

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